segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A novela “A Gata Comeu” volta nesta segunda à TV mais moderna do que nunca

Novela estreia nesta segunda-feira (24), no Canal Viva, é uma das mais populares dos anos 1980.

Fonte: Gazeta do Povo
Jô Penteado (Christiane Torloni) e Fábio Coutinho (Nuno Leal Maia), casal protagonista vivia às turras. 
Foto: Divulgação

Uma trama simples, com poucos personagens, figurinos simples e nada de efeitos visuais garantiu a longevidade de “A Gata Comeu”, novela originalmente exibida em 1985 na Globo e que volta à televisão nesta segunda-feira (24), às 15h30 (horário alternativo: 0h30), agora no Canal Viva. Apesar da ‘idade’ da novela, isso é exatamente o que mercado está pedindo, acredita o pesquisador em teledramaturgia Claudino Mayer, doutor no gênero pela USP. “O público de novela é muito conservador”, afirma. De acordo com o canal, essa é uma das reprises mais pedidas pelos assinantes. 

É que a receita da novela de Ivani Ribeiro, um folhetim clássico e enxuto, parece ser a tônica também para as atuais tramas globais. Diretor de teledramaturgia da emissora, o autor Silvio de Abreu vem pedindo aos outros escritores que se contenham nas inovações de linguagem – indo em direção contrário, por exemplo, a “Velho Chico”, de Benedito Ruy Barbosa. Dona do horário das sete, “Haja Coração”, uma adaptação de “Sassaricando”, escrita por Abreu, vai por esse caminho e já é a melhor audiência do horário das 19h em três anos. 

Outras novelas inesquecíveis dos anos 1980 

“Ivani Ribeiro (morta em 1995) era uma autora do melodrama, que escrevia folhetins que vendiam pela emoção. Com menos núcleos de personagens, o público consegue se envolver com a trama de maneira mais simples. Atualmente, as novelas vêm tentando resgatar esse formato, mas, enquanto isso, ‘A Gata Comeu’ vai ocupar esta lacuna”, completa Mayer. Ivani escreveu “Mulheres de Areia” e “A Viagem”, entre outros sucessos que também ganharam reprises no Viva – e que também foram remakes de outras histórias da autora, em geral produzidas em outros canais ou mesmo pelas rádios. 

Apesar de a fórmula ser garantida, a novela apresentou inovações com relação às anteriores. O texto já era uma adaptação de “A Barba Azul”, de 1974, protagonizada por Eva Wilma e Carlos Zara. Christiane Torloni, que assumiu a protagonista Jô Penteado 11 anos depois, atualizou o conceito de mocinha nos anos 1980 e trouxe um frescor muito bem-vindo ao gênero. 

Seu cabelo curto, repicado e cacheado ditou moda, assim como os brincos e vestidos, que descrevem a década como nenhum outro personagem. Mas era a personalidade que de fato era determinante. 

 A mocinha, a primeira de Christiane àquela época, era rica e um tanto mimada, mas também determinada, engraçada e batalhadora. Uma dessas ‘guerras’ que trava é justamente pelo amor do professor Fábio Coutinho (Nuno Leal Maia), que ela conhece logo no início da trama. 

“Bateu, levou!”

Os dois vão parar, junto de seus respectivos grupos, em uma mesma embarcação durante um passeio por Angra dos Reis (leia mais ao lado). A implicância é imediata. Viúvo e pai de dois filhos (entre os quais Danton Mello, em sua primeira novela), ele não se curva ao temperamento de Jô. Quando eles são obrigados a conviver por dois meses após um naufrágio, as brigas são constantes. 

Jô Penteado colecionou noivos até conhecer Fábio. Teve sete deles, o que lhe rendeu o apelido Lucrécia Bórgia. Só que essa relação intempestiva chega às vias de fato – e não em um bom sentido. A mocinha invariavelmente se vê sem argumentos e parte para a agressão física. Só que Fábio revida. “Bateu, levou!”, justifica o personagem. Em tempos em que a violência doméstica chega ao debate público, essas cenas certamente não devem mais funcionar como alívio cômico.

“A Gata Comeu”, o “Lost” brasileiro 

Um acidente misterioso, náufragos perdidos em uma ilha afastada, dificuldades de relacionamento entre os novos ‘habitantes’ do lugar, natureza hostil e, principalmente, nenhum sinal aparente de resgate, já que os desaparecidos foram, na verdade, considerados mortos. Esse parece ser o mote do fenômeno “Lost”, certo? Não! É exatamente assim o início de “A Gata Comeu”, que estreou 19 anos antes que a série de J. J. Abrams. 

Enquanto a turma de Jô e Fábio sofre um revés do clima durante um passeio no fim de semana e, junto com todos os ocupantes de uma lancha, são arrastados pelo mar até uma ilha (filmada em Angra dos Reis, litoral fluminense), Jack (Matthew Fox), Kate (Evangeline Lilly), Sawyer (Josh Holloway) e Locke (Terry O’Quinn) são arrebatados no ar durante um voo entre Sidney e Los Angeles em uma queda sem muita explicação. 

A turma brasileira se divide entre os ricos amigos e familiares de Jô, e, pelo lado de Fábio, os filhos, alunos e noiva (que, como já sabemos, vai sair dessa solteira). Prevenidos, os últimos têm consigo duas barracas, enquanto que os milionários são obrigados a ficar no barco – muito embora Jô tente invadir o acampamento à força, provocando a primeira grande briga com Fábio. Em “Lost”, isso acontece quando parte dos sobreviventes descobre uma caverna com água potável. Uns se mudam enquanto outros preferem ficar acampados na praia. 

A brincadeira que compara as duas obras, que têm origem, época e gênero diferentes, parece demais, mas, quando se fala em recurso narrativo, novela e série se encontram. “Nas ilhas da ficção, os personagens renascem, fogem da vida a que estavam acostumados e têm outras oportunidades”. Enquanto Jô e Fábio se apaixonam (e outros casais se formam), os sobreviventes de “Lost” ganham a chance de voltar a andar (Locke entrou no avião em uma cadeira de rodas) e de serem livres (Kate era fugitiva). 

 A vantagem da turma carioca é que a experiência durou apenas dois meses, enquanto que a turma de Jack desafiou o espaço-tempo.

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